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Divagações, Diatribes e outros Semelhantes

sábado, 19 de março de 2011

Cais da Silveira

Não sei se é impressão minha, se é embelezamento das minhas memórias de juventude, se é esta onda de depressão constante dos dias de hoje ou se é mesmo verdade, mas o cais da silveira parece-me velho.

Quando eu era puto ia muita vez a pé de casa à Silveira com a minha mãe e a minha irmã tomar banho durante a tarde.
Íamos depois do almoço e ficavamos por lá até o meu pai sair do trabalho por volta das 6 para virmos à boleia com ele pra casa.

Ao fim de semana íamos em família e ficávamos no cais de toalha estendida, sempre entre a casa de banho e a prancha. Lembro-me perfeitamente daquela poeirazinha que se levantava, das beatas de cigarro pelo chão, da sensação claustrofóbica de estar rodeado de desconhecidos, de querer falar e não conseguir, de buscar sempre em vão uma cara conhecida por entre as massas. Sim, eu já de puto era bastante depressivo.

Mas durante a semana, nos dias a pé, ficávamos sempre na zona baixa, ou como lhe chamávamos na altura, nos ferrinhos. Normalmente perto da casa dos barcos, se não fosse mesmo à frente, estendíamos as toalhas e era um tal recozer ao sol.
Na onda da claustrofobia e do desconforto geral, acabava a passar a tarde toda dentro de água.
A meio caminho da travessia andava por lá aos círculos a ensopar em vez de recozer.

Mas na altura, embora eu fosse meio cinzento, o mundo parecia bonito.

Hoje o cais parece-me estragado, velho.
Faltam pedras, a descida ao longo dos ferros já não é direita, está toda escavacada, o piso já não inspira confiança. As barreiras, que antes eram vermelhas e brancas ao estilo dos nadadores-salvadores, agora são em inox, um cinzento baço que entristece.
Para além do mais, estão sempre partidas, com falta de algumas barras e com pontas aguçadas no seu lugar.

Não sei se sou só eu, mas os locais que marcaram a minha infância parecem ter envelhecido muito mais do que eu, em muito menos tempo.

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