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Divagações, Diatribes e outros Semelhantes

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cada macaco no seu galho

Disneys 'R UsJá há algum tempo aluguei este no videoclube, e como todos os DVD's que compro/alugo vi tudo o que era documentários e extras que havia pra ver.

Os making of's deste dão-me uma bela prova que quem não percebe de um determinado assunto deve-se manter no seu galho em vez de ir arrotar postas de pescada para o meio da rua.

E não façam essa cara que eu sei que todos vocês vêem desenhos animados, nem que seja com a desculpa que é pros filhos!

Para quem ainda não viu cá vai uma explicaçãozinha.
Um imperador azteca é alvo de uma tentativa de assassinato pela sogra ou avó ou madrasta ou lá que raio de merda é, só que em vez de veneno ela agarra uma poção que o transforma numa alpaca. Ou num lama, agora não interessa.
Aparece um lavrador ou lá o que é e ele segue a sua "quest" de se transformar outra vez num humano e pelo caminho aprende o valor da amizade e todas essas tretas que há em exagero nos filmes da Disney.

Voltando à vaca fria, a velha quando descobre que o gajo não está morto agarra o frasquinho e repara que a etiqueta estava amarrotada... em vez de uma caveira, tem um desenho do dito animal.

E o realizador diz que não percebe porque é que as pessoas acharam tanta piada à cena, que era só uma maneira de explicar como é que ela se enganou.
E é uma das cenas mais engraçadas do filme.

Em vez dessa a cena que o comentarista mais gostou foi esta, mais ou menos aos 2:17



A explicação dele é que aztecas a dancar Riverdance não faz sentido nenhum, porque as culturas nunca se encontraram...

E esta é uma das cenas que se ninguém chamasse a atenção, nem se dava por ela.


E agora pergunto eu: O que raio é que se passava na cabeça dos executivos da Disney quando puseram este gajo à frente do filme?

Mas isto é tudo estúpido ou quê?

Não, não... faz perfeito sentido... Para além de ser um gajo que não tem sentido de humor nenhum, parece que é um novato na Disney, e até nem tem muita experiência com animação!

Faça-mos uma analogia... Num barco no alto mar o capitão cai borda fora...

Quem é que vamos pôr a substitui-lo?

O papagaio, claro!

sábado, 29 de maio de 2010

Estados de espírito

Só num pequeno à parte, devo dizer que isto de blogalhar é um bocado como escrever música.

Se o cantor está apaixonado saem baladas de amor e se ela acabou com ele saem canções de desespero e suicídio. Se é pobre são canções anti-Bush, se é rico são raps de putas e carros.

Como tal, não pensem que esta minha nova onda de introspecção e profundismos é para se manter!

Os comentários mordazes e avacalhadores vão voltar, bem como as actualizações ao DPS...

É tudo uma questão de estado de espírito e neste momento encontro-me com um espírito contemplativo, esperemos não por muito tempo.

Sebo

Como infelizmente já toda a gente sabe o partido comunista está pelas últimas. Já não há povo em Portugal,a classe baixa já é só pobres e pequena burguesia. Já não há lavradores, agora são latifundiários.
Perdemo-nos com títulos e esquecemo-nos que somos a base deste país.
E para além do mais a influência americana ensina-nos que os comunistas são papões que comem criancinhas e envenenam a nossa juventude.
Aliás, foi por isso que eles inventaram o McDonald's, já que é para envenenar a juventude que seja com veneno made in USA!

E se isso é verdade a nível país, mais ainda a nível Açores.

A Coligação Democrática Unitária é composta pelo partido comunista e pelo partido ecologista de Portugal... o que só diz mal dos dois, porque nenhum é forte suficiente para se aguentar sozinho. Acho que também tem qualquer coisa de uma Independência Democrática, mas desses eu nunca ouvi falar.

Passando estes parágrafos de exposição, toda a gente concorda que um político vê-se à distância.

O sorriso amarelo, as promessas infundadas, o brilho do enxofre da alma vendida ao Diabo, no fundo todo aquele ar gorduroso que nos faz olhar e dizer que aquele filho da puta é político de profissão.

No meu trabalho lido com vários políticos (quem me ouve falar até parece que sou alguém importante que anda a beber copos com o primeiro ministro) e recentemente cruzei-me com Aníbal Pires, líder regional ou lá o que é da mencionada CDU... e o homem não me pareceu um político... Dá um ar de Doutor, sim, mas não tem aquele olhar vazio de político.

O problema é que não consigo perceber se isto é bom ou mau!

Se o líder da coligação não parece um político, o que é que isso diz da coligação em si?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Blackout

Get it?Lembro-me do meu primeiro blackout com memória. Quer dizer, não sei se foi o primeiro, mas é o primeiro de que me lembro.

Eu era novo, devia ter algures entre os 3 ou 5 anos, mais coisa menos coisa. Lembro-me que esta naquela idade em que os putos aprendem autonomia, tipo a lavarem-se sozinhos ou fazerem cereais ou cenas desse tipo, e foi mesmo isso que aconteceu.

Saí da banheira e limpei as costas sozinho pela primeira vez! Estava super orgulhoso, mais que se tivesse ganho as olimpíadas!

Tal como qualquer puto que consegue um "achievement" nessas idades, fui todo contente mostrar aos meus pais.

Algures entre a casa de banho e a sala esqueci-me completamente o que é que estava a fazer. Quando dei por mim estava na sala à frente do meu pai, todo nú e todo molhado (mas de costas secas!) e fui logo mandado de volta pra banheira "lavar como deve ser".

Só depois de sair da banheira a segunda vez é que me lembrei dos porquês. É claro que na altura era novo demais para perceber que aquilo não era normal, pelo que nunca mais me lembrei desta história.


Até ao liceu.

Numa prova global, já não sei de quê nem em que ano, aliás, só sei que era uma global por causa das folhas de teste estúpidas que tínhamos que comprar, fechei os olhos e quando os abri a prova estava feita.

E tinham-se passado 25 minutos.

Levei o resto do tempo a ler o que tinha escrito, só pra ter a certeza que não tinha feito asneira nenhuma. Ao contrário da banheira, nesta não me lembro mesmo do acto... não me lembro de ter passado 20 minutos a escrever nada.

Foi mais ou menos nesta altura que comecei a perceber que isto se calhar não é lá muito normal...

Mas como tudo na vida, esqueci-me completamente e nunca mais me veio à memória.

Até à próxima.

Talvez o mais significativo dos meus blackouts foi a minha primeira experiência sexual.
Não me lembro de ter acontecido, não me lembro com quem foi nem onde foi nem quando foi nem quanto tempo durou...
Só sei que aconteceu porque no dia seguinte tinha marcas de batom onde não devia ter e uma sensação de que alguma coisa se passou, mas não me lembro de absolutamente nada.

Se bem que nesta tenho a distinta sensação que o dia "desapareceu" da minha memória, como se fosse uma página arrancada de um livro, em que sabemos que ela falta mas não fazemos ideia do que lá diz.

Não acontece vezes suficientes para ser preocupante, nem me parece que seja um sinal de que alguma coisa está criticamente errada comigo, mas é no mínimo enervante.

O que me deixa mais apreensivo é que um dia aconteça e eu me esqueça de alguma coisa realmente importante, ou faça alguma coisa que me vá arrepender.

E o mais bizarro é que não conheço mais ninguém a quem isto tenha acontecido.

Fico sempre na esperança que estas memórias um dia voltem, como descobrir uma gaveta cheia de filmagens antigas no sótão empoeirado que é o meu cérebro.

Mas não conto muito com isso.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Emo Music

Estava a ouvir Papa Roach outro dia (hey, pra quem lê a União e o Diário Insular, comportamentos suicidas não devia surpreender ninguém) quando me lembrei desta...

O problema de cantar música Emo, do tipo sou um triste, ninguém gosta de mim, não presto pra nada, é que é impossível ser um projecto de longa data.

Tome-se como exemplo a banda mencionada.

Na altura que ouvi pela primeira vez o Infest, há uma década atrás, achei que ecoava o sentimento de uma geração.
Sem querer comparar níveis de fama, fez-me lembrar o que Kurt Cobain fez pela geração rasca, no fundo pondo o que se estava a passar na cabeça dos jovens em canções que só podiam ser compreendidas por esses mesmos jovens.

Mas esta era é uma era de inseguranças. É uma era de imaturidades.
É uma era de meninos mimados que fazem birra quando a rapariga bonita da escola não olha pra eles e de meninas mimadas que fazem birra quando a mãe não deixa usar aquele roupa toda gira só porque dá ares de puta...

É uma era de cromos temperamentais... uma era de idiotas.

E voltando à banda sem nunca ter saído dela.

Como é que uma banda consegue viver de música de "ninguém gosta de mim" quando pela altura do segundo CD já um monte de gente gosta deles?

E eis que chega lovehatetragedy... Desde que foi lançado em 2002, o álbum não passou do ouro... e basta ouvir "she loves me not" para perceber porquê.

É uma merda.
Já não tem feeling, eles cantam de um sentimento que se lembram vagamente de ter... e para as massas isso não é suficiente.
Porque as massas têm gostos efémeros. Porque as massas não têm respeito pelos artistas.
Na geração X tudo o que não conseguir prender a atenção por mais de 5 minutos passa à história.
As modas mudam mais depressa que tudo e o que antes se gritava na rua agora esconde-se com vergonha.

Felizmente para eles foram espertos e acabaram por se safar.

E é assim que aparece o próximo álbum, aptamente titulado Getting Away With Murder.

Neste álbum os Roach assassinam o som que tinham e reinventam-se com o mais "seguro" rock alternativo.

Mais Alien Ant Farm que Papa Roach, este já chega à platina e os putos do ninguém gosta de mim aprendem uma valente lição...

Quer gostes ou não gostes da tua própria música, o que interessa é vender CD's... e se tiveres dinheiro muita gente vai gostar de ti.

Cinzas!

Puff!Tem sido um belo fim-de-semana...
Graças à já famosa nuvem de fumo do Eyjafjallajökull (diz lá isso três vezes depressa!) o espaço aéreo açoriano está fechado.
Nada de aeroportos, nada de aviões, nada de nada.

E nada de partidas.
Ninguém chega e ninguém sai.

E percebe-se. A cinza vulcânica causa problemas gravíssimos nos aviões, desde vidros riscados (que causa problemas na visibilidade), leituras erradas nos controlos de altitude até à fatal paragem completa dos motores.
Percebe-se perfeitamente que as companhias não queiram arriscar perderem os seus preciosos aviões... senão como é que nos iam roubar dinheiro no futuro?

Note-se que os militares não querem saber (ou não queriam, ao princípio) e já há aviões da RAF aterrados para manutenção.

É claro que acaba a tocar aos hotéis. A Sata e a TAP pagam a conta e os hotéis enchem de pessoas irritadas, incomodadas, desesperadas e muitas vezes chatas como tudo.

Dezenas e dezenas de turistas, empresários e afins entalados na ilha sem poderem ir pra casa.
E velhotes... raios partam os velhotes!

Ai, porque se eu não estiver em casa vou perder a missa lá do padre não sei de onde, que diz uma reza especial em nome de não sei quem!Justificar completamente

Por amor de Deus...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Enquanto os fracos não tiverem medo dos fortes, enquanto não houver força motivadora para sermos o melhor que podemos ser, nunca vamos nem sequer fazer o esforço para o ser... vamos continuar medíocres, ignorantes e simples... porque temos uma sociedade que nos diz que estamos bem assim.

Porque temos professores, pais, líderes e ídolos que nos dizem, todos os dias e com toda a convicção... que não é preciso ser o melhor.

Que o importante é competir, não ganhar.
Que não precisamos ser bons, basta ser bom o suficiente.
Que não é preciso ter a melhor nota, basta passar.
Que devemos abraçar a nossa criança interior, não é preciso crescer.
Que temos que ter pena dos mais fracos, coitadinhos, não tem culpa de ser assim.
Que não podemos comer animaizinhos, só couves e cenouras.
Que não precisas perder peso, a beleza interior é que interessa.
Que não é necessário um curso superior, trabalhar no caixa do Hiper também paga as contas.
Que não precisas de educar os teus filhos, há professores para isso.
Que não é obrigatório seguir a lei, os governantes estão cá para endireitar as coisas.
Que não tens que poupar, os créditos servem para isso.
Que as prioridades não interessam, faz o que te apetecer que isso resolve-se tudo depois.

Enquanto continuarmos a ser levados ao colo toda a vida, vamos continuar a comportar-nos como bebés porque podemos. Porque nos deixam.

E quando for necessário sermos adultos?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Enquanto não houver respeito pela autoridade legal, não há dever cívico. E quando não houver dever cívico, que para lá caminhamos bem depressa, os governantes deixam de ter interesse no seu país e passam só a ter interesses... e que se lixe o país.
Quando não somos educados para o bem maior não podemos esperar que os outros o sejam.
Nenhum de nós tem o direito de reclamar dos governantes que temos, porque para além de termos sido nós que os pusemos lá, nenhum de nós conseguiria fazer melhor.
Não estamos equipados para isso. Não tivemos o respeito necessário para aprender o mínimo sobre o assunto. O dinheiro não cai do céu e os cofres de estado têm fundo e nós não conseguimos perceber disso.

Nós pensamos que como o dinheiro é fabricado, não tem fim. Que é só ir lá às máquinas e mandar imprimir mais uns milhares de euros.

Ninguém sabe o que é preciso para governar uma freguesia, quanto mais um país.

E como não percebemos, reclamamos.
Porque é que não baixam os impostos? Porque é que eu pago tanto de IRS? Porque é que a gasolina está sempre a aumentar? Porque é que a comida é tão cara?

Porque nós deixamos!

Porque vem um filho da puta fazer um aeroporto que não interessa para merda nenhuma e nós dizemos sim senhor! E depois queixamos que os impostos aumentaram... e a culpa é do estado.
Porque vem um cromo qualquer dizer que não é preciso plantar mais trigo na ilha, então toca de criar vacas! E depois queixamos que não há pão e a carne de vaca não rende... e a culpa é do estado.
Porque vem um energúmeno e diz que as fábricas de conservas já não interessam e toca de mandar fechar todas! E depois queixamos que o atum está caro e não exportamos nada... e a culpa é do estado.
Porque vem um engravatado dizer que o que precisamos é de ajuda dos americanos, que não temos exército nem força aérea suficiente para controlar o nosso território, e é só aplaudir! Depois queixamos que não há turismo, que os preços dos bilhetes são caríssimos, que os americanos estão a foder isto tudo... e a culpa é do estado.
Porque queremos pontes daqui pró caralho e o estado diz que vai ser caro mas consegue-se e nós é logo, manda vir! E depois as portagens são um balúrdio e há falta de reparação... e a culpa é do estado.

O estado não presta e a culpa é do estado.

Mas tal como os treinadores de futebol, qualquer um de nós acha que na sua magnanimidade consegui fazer melhor se tivesse uma oportunidade.

Mas não tem, porque o estado não dá.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Enquanto não houver medo dos pais, reina a anarquia nas famílias. Os filhos mandam nos pais sem terem responsabilidade nem sabedoria para tal.
Os pais endividam-se para comprar merdas para os filhos que eles não precisam e no fundo até nem querem, comem pão para a criança comer lagosta, usam roupa velha para o puto usar roupa de marca, que é pra não ficar feio junto dos amigos.

Quando estes filhos chegarem a pais não vão saber aguentar com as responsabilidades, os problemas, as decisões. Não vão estar minimamente preparados e vão gerar mais uma geração incompetente.
Estamos a destruir pelo menos as próximas três gerações, só pro puto poder ter mais uma PSP ou mais um bolo de chocolate.

E para quê?

Porque vivemos na ilusão que eles têm que ter o que nós não tivemos?

Coitadinho do menino, que não sabe fazer melhor.

Mas não se pode dizer nada, senão o puto queixa-se à polícia.
Porque o puto não pode levar o lixo à rua, nem ajudar a lavar a loiça, que é exploração infantil.
Que não se pode obrigar o puto a fazer trabalhos de casa, que obrigá-lo a fazer o que ele não quer destrói a sua auto-estima.

Nós não temos falta de auto-estima, temos é excesso!

E quando eu, puto, chegar ao "mundo real"? Como é que vai ser?
Não estou preparado a lidar com desilusões, não estou preparado para não ser considerado a dádiva de Deus ao mundo, não estou preparado para ser... só mais um.

E não percebo isso. Não consigo compreender que afinal não sou especial. Que afinal sou só mais um entre as massas. E torno-me um membro não-produtivo da sociedade, que eles é que não sabem apreciar o meu valor, que não me dão oportunidades, que não me deixam fazer aquilo que eu sou bom a fazer.

Mas não faz mal, que quando eu estiver sem trabalho e na miséria, passo a receber rendimento mínimo e fica tudo bem outra vez!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Enquanto não houver medo de represálias os ladrões não vão parar de roubar. Não há razão para não matar ninguém, se não há nada a temer. O crime não tem consequência real, vais preso durante uns meses e depois estás cá fora outra vez. Da maneira que a taxa de desemprego continua a aumentar, não falta muito para se estar melhor lá dentro do que cá fora. Pelo menos tens comida e televisão.

Se eu for assaltar uma casa e tiver a certeza que o dono não está armado, não há nada que me impeça. Eu sou maior, eu sou mais forte, isto é tudo meu!

Se me apetecer mato alguém e pronto! O que é que eles vão fazer? Prender-me?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Medo

A humanidade esqueceu-se o que é ter medo.

Os ladrões não têm medo da polícia, os filhos não têm medo dos pais, os cidadãos não têm medo da autoridade, os fracos não têm medo dos fortes, os mais novos não têm medo dos mais velhos, os alunos não têm medo dos professores e os políticos não têm medo do povo.

Não estou a falar de terror.

Não é ser caçado até à morte porque temos uma cor de pele ou uma religião diferentes da maioria.

Não é ter uma polícia secreta política que faz com que os pais tenham medo de ser denunciados pelos filhos, que não permita que se juntem mais que três pessoas, que proíba o raciocínio.

Estou a falar do simples medo, aquele que faz com que tiremos a mão de dentro da panela porque sabemos que água a ferver queima.
Aquele que faz com que não andemos na sala sem acender a luz porque sabemos que a mesa está ali, e caneladas doem.

Por muito que nos queiramos convencer que não, e que nos disfarcemos com sedas, algodões e cabedal italiano, no fundo no fundo somos todos animais.

E os animais conhecem o medo.

Sabem que o medo é que nos mantém vivos.

O esquilo sabe que a sombra no céu pode muito bem ser uma águia à procura de almoço.
O gato sabe que o cão é maior, mais pesado e mais forte.
A gazela sabe que o leão tem dentes, garras e muita fome.

E é por isso que eles sobrevivem. Porque agem de acordo com esse medo e protegem-se.

Se a gazela for apanhada, a culpa não é do estado nem dos pais nem dos professores nem da polícia nem da sociedade em geral.

É o medo que a move e é graças a esse medo que ela se mantém viva mais um dia.

Mas nós não. Nós ignoramos o nosso medo.

Chamamos-lhe sociedade. Chamamos-lhe segurança pública. Chamamos-lhe obrigação moral. Chamamos-lhe nobreza. Chamamos-lhe dever.
Que os que não conseguem DEVEM ser arrastados pelos que conseguem. Que os fracos DEVEM ser protegidos pelos fortes.

Mas não é isso que nós queremos dizer.

A realidade que esta hipocrisia esconde é que os malandros DEVEM ser servidos pelos trabalhadores. Que os inúteis DEVEM ser protegidos pelos úteis.

Uma corrente só é tão forte quanto o seu elo mais fraco e a corrente que é a humanidade nos dias de hoje não dava para tocar uma campainha de porta, quanto mais puxar um carro de bois ou ancorar um navio.