Parece que foi ontem...
Estava na escola na altura... era um geek, um outcast... um totó... longe da malta fixe e dos acontecimentos do dia. Não ia a festas, não praticava desporto, não namorava raparigas perfeitas.
Jogava jogos de computador, ouvia música pesada, de berros e guitarradas.
Passava horas à mesa com outros como eu com dados esquisitos e fichas e mapas e outras coisas assim a jogar Dungeons & Dragons. Lembro-me que no Açor, no Corpo Santo, o dono chegou a perguntar se aquilo era algum ritual satânico...
Lia o Senhor dos Anéis e via Star Trek...
Fiquei completamente aterrorizado.
Dois rapazes, oprimidos, gozados, martirizados pela vida social do liceu americano passaram-se completamente e entraram no liceu de Columbine aos tiros... mataram 12 alunos, um professor, feriram outros 23 e suicidaram-se.
Senti empatia... como a mairia dos cromos daquela altura, cheguei a pensar muitas vezes em suicídio, mas saber que alguém o fez, e de uma forma tão violenta e tão explícita fez-me sentir uma espécie de orgulho mórbido e ao mesmo tempo um terror indescritível. Como é que chegámos a isto? Porque é que ninguém reparou? Porque é que que ninguém fez nada?
Senti que a minha "classe" ia ser ainda mais ostracisada. Previ, como quem diz, a caça às bruxas contra os jogos de vídeo, contra a música violenta. Sabia que o público, tanto o americano como o mundial ia querer um bode espiatório... Ninguém vê uma coisa destas sem sentir necessidade de um fim, de alguém para deitar as culpas, de garantia que isto foi um acontecimento bizarro e que alguma coisa se pode fazer para não voltar a acontecer.
Ninguém quer pensar na crueza do mundo que nos rodeia.
Próximo dia 20, faz 10 anos que isto aconteceu.
Porra.... parece que foi ontem.
Hoje, dez anos depois, novas provas já viram a luz do dia. Já se provou que Eric Harris e Dylan Klebold não eram geeks... não eram totós. Muito pelo contrário.
Eram opressores. Eram psicopatas. O primeiro achava-se Deus e o segundo só queria morrer, não lhe importava como... foi fácil um ser convencido pelo outro.
Um ano... um longo ano levaram eles a planear, a construir 102 bombas no total, de gás propano, como usamos nos nossos esquentadores e fogões. Um ano em que esperaram, pensaram e cozinharam o grande plano de matar milhares.
Mataram 13... queriam matar todos.
Alunos, professores, polícias, bombeiros, pais... tudo...
É demais... assusta... vai para além de toda a compreensão como dois rapazes, perfeitamente normais a nível físico, de famílias perfeitamente normais, com vidinhas perfeitamente normais, com potenciais perfeitamente normais... possam não se sabe bem de onde magicar esta bela ideia...
Compreende-se que seja difícil acreditar... se assim for, o próximo pode ser qualquer um.
Posso ser eu, pode ser o dono da venda ali ao fundo, ou o empregado da bomba de gasolina, ou o rapaz do café onde tomo o pequeno-almoço todos os dias... qualquer um...
Assusta...
Porra, parece que foi ontem...
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