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Divagações, Diatribes e outros Semelhantes

sábado, 28 de agosto de 2010

Ophion

Neptuno nos AçoresEm dias assim percebe-se.

No escuro da noite debaixo da fluorescência laranja dos candeeiros o mar não é azul.

Não lembra dias de verão, não lembra castelos de areia, não lembra riso e alegria.

Percebe-se porquê.

O mar não é azul, é negro. Nem a espuma que o cobre traz boas memórias.
Não é espuma de banho, com as suas brincadeiras de chapinhar na água, nem é espuma de maré, que convida ao mergulho.

Não, é uma espuma amarelada, encrespada, que lembra doença, lembra as bocas de cães raivosos, a promessa de um fim abrupto e doloroso.

Em dias assim o mar lembra morte.
Lembra destruição, lembra desastre... faz pensar que o fim chegou.

Não se sente chuva, não se sente frio, mal se sente o vento.

Mas o mar não para.

Está revolto, enraivecido. Galga a terra. Cobre o cais como se fosse só mais uma pedra, só mais um grão de areia.

Do muro que olha sobre a Silveira, quase parece que o mar está aqui, que não é preciso descer a escadaria, ou a rampa para o cais... Não parece estar dez metros abaixo, como tinha a certeza que fosse, parece que está mesmo à minha frente, basta um passo para o alcançar.

Do inconsciente primordial vem a vontade avassaladora de saltar, de me juntar a uma força maior. Felizmente a consciência ganha a batalha, as promessas sirénicas vencidas... pelo menos desta vez.

Em dias assim percebe-se... não sou ninguém e os deuses existem.
Não passo de uma insignificância, de uma formiga perante a força imparável do mar.

No cair da noite, trazido pelo vento, vem o medo.

A certeza indiscutível de que não sou poderoso, não tenho o controle.

Basta o mar querer e entregarme-ei a ele sem sequer ter tempo para pensar.

Em dias assim, percebe-se...
Em dias assim, tenho medo.

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