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Divagações, Diatribes e outros Semelhantes

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Crise

Roubado da Wikipedia
O português gosta de falar.
Não gosta de ouvir, não gosta de trabalhar e não gosta de tomar decisões... mas gosta de falar.
E mais que isso, adora queixar-se.

A culpa é do governo, dos advogados, dos políticos, da burocracia, dos ricos, dos pobres, dos políticos, da classe média, dos médicos, dos políticos, dos tribunais, do Carlos Cruz, da função pública, dos políticos, da polícia, dos hospitais, dos políticos e, para o caso de me ter esquecido, dos políticos.

Mas minha gente... a culpa do país estar da maneira que está? É do povo.

É vossa, nossa, minha e tua. Tal como o país é de todos nós, a culpa é de todos nós.

Ora veja-se a bela decisão do povo português:

27 de Setembro de 2009.

Já tinha rebentado o caso da Independente, o famoso curso comprado ao Domingo, bem como toda a tentativa de encobrimento do mesmo.
Já tinha rebentado o escândalo dos Magalhães.
Já tinha rebentado o caso Freeport, em que o tio do primeiro ministro disse à imprensa que tinha "oferecido" o contrato dos ingleses ao sobrinho.
Já tinha começado a caça à TVI.
Já havia barulho sobre os voos de Guantanamo...
Vale a pena continuar?
Já havia mais que provas suficientes que a pessoa à frente do Governo era um aldrabão, talvez incompetente, que punha os seus interesses à frente dos do país.

E o país o que é que faz?
Elege a criatura para novo mandato!

A culpa não é do Sócrates.
A culpa é dos dois milhões de pessoas que votaram nele e, mais ainda, dos quatro milhões que não levantaram o cú do sofá, efectivamente dizendo "enganem-me à vontade e façam o que vos apetecer, que eu cá estou-me cagando"

E onde é que estão esses quatro milhões agora?

Nos cafés, nas ruas, no sofá... a queixar-se dos políticos e do governo e dos médicos e dos políticos e... da troika também, e da Alemanha e da Grécia e da Irlanda e sei lá mais o quê.

Antigamente dizia-se que a televisão era futebol e fado. Agora acabou-se o fado e é só futebol.
Antigamente queria-se putas e vinho de cheiro. Agora as putas são importadas do Brasil e o vinho de cheiro já não pode ser por causa dos taninos.

O povo português quer é pão e circo.

Ou brasileiras e futebol.

domingo, 16 de outubro de 2011

O Acordo Tortográfico

Não sei se a citação está correcta ou não, mas foi assim que chegou a mim:

Como os filólogos da República da Guiné-Bissau não puderam estar presentes na recente reunião para o Novo Acordo Ortográfico, estamos todos à espera da sua ratificação para saber como é que nós, os Portugueses, vamos escrever a nossa própria língua. E esta? De qualquer modo, os grandes peritos de São Tomé e Princípe, de Angola, do Brasil, e dos outros países de «expressão oficial portuguesa» já se pronuciaram. A República da Guiné-Bissau, porém, também terá a sua palavra a dizer. Muito provavelmente, uma palavra escrita à maneira deles; mas não faz mal. Nas palavras de Fernando Cristovão, 1986 é o ano que marca a nascença da lusofonia. A grandiosa lusofonia está, obviamente, acima da mera língua portuguesa.

A lusofonia é uma espécie de estereofonia, só que é melhor. A estereofonia funciona com dois altifalantes, enquanto a a lusofonia funciona com mais de 100 milhões.” Para mais, os falantes da lusofonia têm a vantagem de ser feitos em África e na América do Sul, o que lhes confere uma sonoridade nova e exótica. Para instalar uma aparelhagem lusofónica devidamente apetrechada, são necessários complicados componentes tupis, quimhmoguenses, umbandinos e macuas, Enfim, coisas que não se fabricam na nossa terra. A partir de 1986, todos os povos a quem uma vez chegou a língua portuguesa podem contar com um lusofone em casa. Um lusofone é um aparelho que permite a qualquer indígena falar e escrever perfeitamente esta nova e
excitante língua, que passará a chamar-se o brutoguês.

Para haver lusofonia, nada pode ser como dantes. Os Lusíadas passarão a conhecer-se por Os Lusofoníadas. Se dantes havia língua portuguesa e a sua particular ortográfica, agora passa a haver a língua brotuguesa e a sua ainda mais particular tortografia. A tortografia, conforme se estabeleceu no Acordo Lusofónico de 1986, consiste em escrever tudo torto.

As bases da tortografia assentam numa visão bruta da fonética. Por outras palavras, se a lusofonia é uma cacofonia de expressão oficial brutoguesa, a tortografia consiste fundamentalmente no conceito de cacografia”. Dantes cada país exercia o direito inalienável de escrever a língua portuguesa como queria. As variações ortográficas tinham graça e ajudavam a estabelecer a identidade cultural de cada país. Agora, com o Acordo Tortográfico, a diferença está em serem os Portugueses a escreverem como todos os outros países querem. Como todos os países passam a escrever como todos querem, nenhum país pode escrever como ele, sozinho, quer.

As ortografias tupis e crioulas, macumbenses e fanchôlas passarão a escrever-se direito por linhas tortas. O Prontuário passa a escrever-se «Prontuario», rimando com «desvario» e «Cuf-Rio». O Abecedário passa a escrever-se «Abecedario», em homenagem a dario, grande Imperador da Pérsia, que, por sua vez, se vai escrever «Persia» para rimar com «aprecia», já que qualquer persa aprecia uma homenagem, mesmo que seja só uma simples omenagem. Já dizia acentuadamente Fernando Pessoa que «a minha pátria é a língua portuguesa». Agora passa a dizer «a minha patria é a lingua portuguesa», em que «patria» deixa de ser anomalia e «lingua» assim, nua e crua.

Será possível imaginar os ilustres filólogos de Cabo Verde a discutir minúcias de etimologia grega com os seus congéneres de Moçambique? Imagine-se o seguinte texto, em que as palavras sublinhadas serão obrigatoriamente (para não falar nas grafias facultativas) escritas pelos portugueses, caso o acordo seja aprovado:”A adoção exata deste acordo agora batizado é um ato otimo de coonestação afrolusobrasileira, com a ajuda entristorica dos diretores linguisticos sãotomenses e espiritossantenses. Alguns atores e contraalmirantes malumorados, que não sabem distinguir uma reta de uma semirrecta, dizem que as bases adotadas são antiistoricas, contraarmonicas e ultraumanas, ou, pelo menos, extraumanas. No entanto, qualquer superomem aceita sem magoa que o nosso espirito hiperumano, parelenico e interelenico é de grande retidão e traduz uma arquiirmandade antiimperialista. Se a eliminação dos acentos parece arquiiperbolica e ultraoceanica, ameaçando a prosodia da poesia portuguesa e dificultando a aprendizagem da lingua, valha-nos santo Antonio, mas sem mais maiúscula. A escrever »O mano, que é contraalmirante, não se sabe mais nada, mas não é sobreumano«? O que é que deu nos gramáticos de além-mar (ou escrever-se-á alemar)? A tortografia será uma doença tropical assim tão contagiosa?”

Os portugueses no fundo assinaram um Pacto ortográfico que sabe a pato. Ninguém imagina os espanhóis, os Franceses, ou os Ingleses a lançarem-se em acordos tortográficos, a torto e a direito, como os Portugueses. Cada país – Seja Timor, seja o Brasil, seja Portugal – tem o direito e o dever de deixar desenvolver um idioma próprio, Portugal já tem uma língua e uma ortografia próprias. Há já bastante tempo. O Brasil, por sua vez, tem conseguido criar um idioma de base portuguesa que é riquíssimo e que se acrescenta ao nosso. Os países africanos que foram colónias nossas avançam pelo mesmo caminho. Tentar «uniformizar» a ortografia, em culturas tão diversas, por decretos aleatórios que ousam passar por cima de misteriosos mecanismos da língua, traduz um insuportável colonialismo às avessas, um imperialismo envergonhado e bajulador que não dignifica nenhuma das várias pátrias envolvidas. É uma subtracção totalitária.

A ortografia brasileira tem a sua razão de ser, e a sua identidade. Quando lemos um livro brasileiro, desde um «Pato Donald» ao Guimarães Rosa, essas variações são perfeitamente compreensíveis. Até achamos graça. Como os Brasileiros acham graça à nossa. Tentar «uniformizar» artificialmente a ortografia, para além das bases mínimas da Convenção de 1945, é da mesma ordem da estupidez que pretender que todos os que falam português falem com a pronúncia de Celorico ou de Salvador da Bahia. é ridículo, é anticultural, é humilhante para todos nós. Se não tivessem já gozado, era caso para mandá-los gozar com o Camões.

>Imaginem-se os biliões de cruzeiros, escudos, meticais, patacas e outras moedas que vai custar a revisão ortográfica de todos os livros já existentes. Imagine-se o distanciamento escusado que se vai causar junto das gerações futuras, quando tentarem ler escorreitamente os livros do nosso tempo. Sobretudo, imagine-se a desautorização e a relativização que o acordo implica. Amanhã, uma criança há-de escrever esperanssa e quando for chamada a atenção, dirá «tanto faz, que estão sempre a mudar, e qualquer dia desaparecem as cês cedilhados». Ou responderá, muito simplesmente: «Pai, mas é assim que se escreve em Cabo Verde!»

“A língua portuguesa nasceu do latim – toda a gente sabe. Um dia, a língua brasileira, e a língua são-tomense, e a língua angolana serão também línguas novas e fresquinhas que nasceram da língua portuguesa. Ninguém há-de respeitar menos a língua por causa disso. (Nós também não desrespeitamos o latim.) As línguas são indissociáveis das culturas e das histórias nacionais, e elas são diferentes em todos os países que hoje falam português à maneira deles. A maneira é a maneira deles, e a nossa é a nossa. A única diferença é que Portugal já há muito que achou a sua própria maneira, tanto mais que a pôde ensinar a outros povos, e é um ultraje e um desrespeito pretender que passemos a escrever como os Moçambicanos ou como os brasileiros. Eles são países novinhos. Nós somos velhinhos, e não faz sentido ensinar os velhinhos a dizer gugudadá, só para que possam «falar a mesma língua» que as criancinhas.

Sem império, Portugal tem ainda a dignidade de ter sido Império. Mas há um feitio mesquinho que se encontra em muitos portuguesinhos de meia-tijela, que consiste em ter medinho que as ex-colónias se esqueçam de nós. Estes acordos absurdos são sempre «ideia» dos Portugueses armados em donos da língua. A verdadeira dignidade não é essa – é soltar a língua portuguesa pelo mundo fora, já que a sua flexibilidade é uma das suas maiores riquezas. Aquilo que já aconteceu – haver um português brasileiro, um português angolano, um português indiano – é prova gloriosa disso. Mas quando os Portugueses desejam meter-se na vida linguística dos outros, é natural que os outros também se metam na nossa. Os próprios participantes deste último Acordo parecem ter perdido completamente a cabeça, aceitando normas ortográficas disparatadas para a língua portuguesa de Portugal. Sem ingerências da nossa parte, seriam inaceitáveis as ingerências dos outros. O Acordo agora proposto – que o Governo deveria ler muito cuidadosamente, antes de consigná-lo, entre saudáveis gargalhadas, ao caixote do lixo da história – é uma mistura diabólica e patética de extremo relaxamento ortográfico («tudo vale, seja na Guiné, seja em Loulé) e de inadmissível sobranceria cultural («tudo vale, mas nós é que temos o aval»). Faz lembrar aqueles miúdos que dizem «Eu faço o que vocês disserem, desde que eu possa ser o chefe»).

Dizem que é «mais conveniente». Mais conveniente ainda era falarmos todos inglês, que dá muito mais jeito. Ou esperanto. Dizem que a informática não tem acentos. É mentira. Basta um esforçozinho de nada, como já provaram os Franceses e já vão provando alguns programadores portugueses. Dizem que é mais racional. Mas não é racional andar a brincar com coisas sérias. A nossa língua e a nossa ortografia são das poucas coisas sérias que Portugal ainda tem. É irracional querer misturar política da língua com a língua da política.
O que vale é que, neste momento, muitos portugueses – escritores, jornalistas e outros utentes da nossa língua – estão a organizar-se para combater a inestética monstruosidade. Que graça tinha se se fizesse um Acordo Ortográfico e nenhum português, brasileiro ou cabo-verdiano o obedecesse. Isso sim, seria um acordo inteligente. Concordar em discordar é a verdadeira prova de civilização”.

Miguel Esteves Cardoso, “O Acordo Tortográfico”, in “Explicações de Português” (Assírio & Alvim, 2ª edição, 2001)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Papier-Mâché

Água vai!Aparentemente vai-se discutir no Outono Vivo o futuro do livro.

Acho piada que a classe social que está a destruir o Livro seja a mesma que se vai juntar para discutir qual vai ser o futuro do mesmo.

O livro vai seguir o caminho do vinil. Vai ser só para aficionados, aqueles que juram que o som é diferente, que o cheiro faz um efeito qualquer e que a terra é plana e o sol gira à volta da lua e outras coisas assim.

O que é que interessa? O dinheiro.

Pura e simplesmente, o dinheiro.

Para o editor, para a empresa que lança o livro, é mais barato lançar em formato electrónico. É mais rápido, mais cómodo, mais limpo até.
Para quê gastar fortunas em transporte quando se pode mandar o livro por email?
Para quê abater árvores aos milhares para produzir livros aos milhões quando um iPod leva mais informação que uma biblioteca inteira?
Para quê armazéns, espaços comerciais, bibliotecas até, quando tudo está na ponta dos nossos dedos?
Para quê gastar fortunas em impressoras, tipografias, tintas, químicos que só fazem mal ao meio-ambiente e entulham os caixotes do lixo?
Aparentemente a produção de um e-reader gasta 3 vezes menos materia prima e 78 vezes menos água, só pra rematar.

Para o escritor é igual ao litro, ele recebe o seu na mesma e o resto que se lixe.
Os autores não deixam de escrever só porque as coisas não se imprimem e já pra mais de 15 anos que todos usam computadores pra preparar o seu trabalho.

E a electronificação do livro só é boa pros autores. Um livro publicado em formato electrónico tem um custo muito mais baixo, o que se traduz num custo de venda menor, o que posteriormente se traduz em mais venda... se eu for dar 15 euros por um livro ou 15 euros por dois, é claro que compro os dois. E também pode significar um lucro maior pro autor, considerando que o bolo total não tem que ser dividido em tantas fatias acaba a dar fatias maiores.

A Palavra Escrita, essa está bem viva. A venda dos Kindles anda a subir em flecha, o Google tem uma secção inteira dedicada a livros electrónicos em constante crescimento, os grandes jornais já todos têm edição electrónica e ,quem diria, blogs é o que não falta.

As pessoas continuam a escrever, continuam a ler, continuam a comunicar.

Eles não querem saber do futuro do Livro... eles querem saber é do monte de filhos da puta que fazem fortunas à custa da criatividade dos outros!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

De volta à televisão

PlonkEu não sigo a política nacional. Não sigo os sensacionalismos, os tablóides, as casas dos segredos nem os big brothers, não sigo a política internacional, nem as guerras do mundo nem todas essas trapalhadas que enchem as páginas dos jornais. A maioria das vezes nem vejo telejornal.

Num dia a dia de contar cêntimos pra pagar as contas e por comida na mesa torna-se difícil sequer fingir que me preocupo com o que acontece aos outros quando os conheço, quanto mais o que acontece do outro lado do mundo a um plantador de arroz qualquer no Vietname.

Como tal, não estou nada a par do processo Casa Pia. Não sei quem são, quantos foram, o que é que se passou, o que é que se provou que não se passou e tudo mais que talvez fizesse sentido a este post. Quando penso em Casa Pia só me lembro de Bibi, Carlos Cruz, Herman José e uma entrevista a um rapazinho que dizia "se algum adulto vos puser a mão no pénis, não tenham medo de falar que não vão ser castigados."

De acordo com a Pública deste fim de semana, Carlos Cruz vai voltar à televisão.
E tenho que admitir que não me estranha nada.

O tempo apaga tudo, cura todas as feridas e limpa todas as memórias. O mesmo instinto que nos faz não falar mal dos mortos faz-nos esquecer as injustiças de ontem, as atrocidades do passado e concentrar nas parvoíces do presente.

Enquanto que há 9 anos atrás a praça pública estava certa da sua culpa e queriam esquartejá-lo e arrastá-lo pela rua, hoje se calhar já não é bem assim e talvez não tenha sido e porque há a hipótese de que afins e coisa e tal.

Demorou quase uma década, mas para Carlos Cruz a vida está a voltar à raiz, à sua televisão, à sua profissão.

É bizarro.

Não consigo perceber como é que as pessoas se esquecem daquilo que ontem tinham tanta certeza. Como é que as sentenças de morte de outrem são palmadinhas nas costas de agora. Como é que os demónios-em-pele-humana se tornam numa cara que nos invade a casa pelo ecrã.

E daqui a dez anos, talvez até menos, já ninguém se lembra do processo, já ninguém se lembra da pedofilia e Carlos Cruz passa a ser só mais um dos figurinos sentado a uma mesa em frente às câmaras.

E tudo volta a ser como era antes.

sábado, 8 de outubro de 2011

Eu

Gosto como Álvaro Monjardino se apresenta hoje, "o autor destas linhas."

É daquelas coisas que depois de se ver desperta um "mas como é que não me lembrei disto antes?"

Vê-se por aí muita apresentação diferente, sendo a maioria auto-depreciativa como é caso "o vosso humilde servo" ou "este simples escriba" ou outras lérias do género, como que a convidar uma resposta de "deixa lá que até és importante" e até ficam chateados quando não recebem dita resposta.

Quando se refere outros é quase sempre um elogio exagerado, quase sardónico, "o poeta," "o bardo," " o grande," "o ilustríssimo," "o venerável," "Sr. Dr. Eng. Arq. Zé Povinho," e outras demais lambidelas ao rego, um medo de possíveis e imaginárias represálias por meia dúzia de palavras, a maioria das vezes até absurdas.

Mas assim não é com Álvaro Monjardino (pelo menos hoje). "O autor destas linhas" não é pretensioso, humilde, exagerado, não é uma chamada de atenção nem uma fuga à ribalta.

É apenas o que é e nada mais.

O que me parece perfeitamente adequado.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ponta do Facho

De acordo com a União de hoje, foi encontrado morto um jovem de 13 anos...
De acordo com o meu pai, o dito jovem é meu primo.
Acho que primo em 3º grau ou praí, mas mesmo assim primo.

Faz-me pensar nas unidades familiares hoje em dia.

A minha mãe tem alguns 40 primos e conhece-os a todos, pelo menos de nome. Sabe as suas genealogias, nem que seja por aproximação, que este é filho daquele e sobrinho daquela.
Não querendo chamar ninguém de velho, antigamente era assim... as pessoas viviam umas com as outras, precisavam umas das outras e contavam umas com as outras.

Este meu primo, eu não o conhecia. Mas é que nem sabia da existência dele.
Conheço a mãe dele (aliás, sei pouco mais do que quem ela é de nome) mas já não a vejo desde antes do rapaz nascer... Pouco mais sei do que "a filha do irmão do meu avô."
Do rapaz não lhe sei o nome, não faço a mínima ideia quem era como pessoa, quais os seus interesses, desejos futuros, expectativas da vida, fantasias, sonhos e tudo mais.

Por um lado entende-se, sendo já um grau afastado, mas por outro... não é só nos afastados que falho neste ponto.

Andando a "folhear" páginas do facebook percebo que praticamente não conheço a minha família!
Vejo que esta está a namorar com aquele, aquela comprou um bar, o outro arranjou uma namorada, a outra foi tirar um curso novo, aquele queria ir pra tropa mas não conseguiu e por aí em diante, gente de quem eu era muito chegado à dez ou quinze anos atrás e de quem agora não sei nada.

Chegando ao cúmulo de que a minha irmã ontem disse-me que foi aceite pra universidade, quando eu nem tinha bem a noção de que ela já tinha acabado o 12º.
O contacto íntimo entre nós, viver o dia-a-dia lado a lado como era quando vivíamos sob o mesmo tecto, já acabou à tanto tempo que na minha ideia ela só agora é que chegou ao liceu, só agora é que começa a recta final de estudo, ainda com sonhos de ser juíza.

Mas já não é assim. Já é uma mulher feita, como diz a minha avó, já tem um namorado de sete (oito?) anos, já trabalha e já organiza a sua vida como uma adulta.
Embora ainda viva com a mãe, já não é criança. Já é adulta.

É meio bizarro da minha parte... olho para trás e tento-me lembrar quando é que começou o distanciamento e não consigo perceber nem quando nem como foi.

É a única constante da vida, de que o tempo passa.
A vida segue inexoravelmente e tudo flui rio abaixo sem esperar por testemunhas.
O tempo não se preocupa com quem está a ver, nem com o que possamos estar a perder das vidas daqueles que gostamos.

Mas são situações como esta, do meu primo de 13 anos, que me fazem perceber (nalguns casos tarde de mais) que tudo está pelo fio da navalha e que temos que aproveitar o tempo que temos ao máximo, saber o máximo, partilhar o máximo e viver, em conjunto, o máximo que pudermos.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Séries de Segunda - Terra Nova

®FoxVi esta outro dia por acidente, daqueles coisas que aparecem à frente sem estar a contar muito com isso.
Foi mesmo só por parvoíce, apareceu-me o Title Card e não sei se foi os pássaros esquisitos ou a paisagem idílica, mas apeteceu ver.

Foi, no mínimo, uma alegre surpresa.

Liderada por Steven Spielberg e pelo "Star Trekiano" Brannon Braga, esta série é um Jurassic Park do futuro, com um toque de Lost in Space misturado com a família Robinson, a trama de Lost e até um toquezinho de Avatar e se for bem explorada promete ser a próxima grande saga de ficção científica, ao lado de Star Streks, Stargates e outros stars que andam por aí.

A história começa 150 anos no futuro e passa-se 85 milhões de anos no passado. Os humanos tentam estabelecer uma colónia numa paisagem crivada com dinossauros e mais um sem-fim de incontáveis perigos, desde doenças bizarras até uma facção traidora que prometer ter enredo para quantos episódios lhes apetecer fazer.

O orçamento de efeitos especiais aparentemente é bem grande, o que felizmente se traduz em criaturas e ambientes realistas em vez de explosões e bicharada artificial.

Os actores são na sua maioria caras de televisão, uma mistura entre britânicos e americanos, do tipo que nos fazem andar de cinco em cinco minutos a dizer "olha aquele que apareceu no tal episódio daquela série!" mas deve-se destacar o excelente Stephen Lang, que passou de um líder militar no Avatar, para... um líder militar no Terra Nova.

Ainda é muito cedo para dizer se é ou não uma série vencedora mas, se os criadores não fizerem muita asneira, parece ter pernas para andar.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Filmes de Sábado à Noite - Sucker Punch

®Warner BrothersEste é daqueles que tenho pena de não ter sido mais visto/apreciado.
De acordo com a Wikipédia o filme rendeu na bilheteira pouco mais do que custou (em comparação, o Transformers Dark of the Moon rendeu 9 vezes mais).

Gostei do princípio ao fim, com os seus variados nós e perguntas não respondidas, com as dúvidas que ficam no ar sobre o que é real e o que não é...

Mas acima de tudo gostei pelo estilo.
É uma mistura de manga, videojogos, fantasia, acção, musical, numa massa final surpreendentemente homogénea.

Até os contrastes totais funcionam surpreendentemente bem.
Quando a equipa entra na caverna do dragão com uma manobra tipicamente militar, uma limpeza de metralhadora do género do SWAT, até nos esquecemos que nem 5 minutos estavam a usar espadas de samurai para matar orcs ao quilo.

É uma confusão total, mas que ao mesmo tempo se acompanha facilmente.

E chega ao ponto em que a própria verdade já é duvidada, mas não faz diferença porque cada um dos cenários são plausíveis.

Será que é a Babydoll a ver a vida passar-lhe à frente dos olhos antes da lobotomia?
Será que a casa explodiu depois do tiro na lâmpada?
Se o manicómio é que é real, como é que o motorista aparece nas fantasias se ela nunca o viu?
E se... não é ela a personagem principal?
Quanto mais remexemos mais andares descobrimos e mais divertido se torna rever e procurar novos pormenores para provar que este ou aquele enredo é que é o verdadeiro.

Mas no geral é um filme giro. Considerando que é o mesmo realizador do 300 e do Watchmen, já se espera um filme cheio de explosões, mortes e porrada ao quilo e este não decepciona.

Nem que seja só pra ver e esquecer, com pipocas à mistura, merece uma vista de olhos.

Link Rápido

Só porque achei curioso, cá fica um artigo sobre sexualidade e acasalamento.

domingo, 2 de outubro de 2011

O desespero é meo


A incompetência dos serviços espanta-me cada vez mais. Acho que as empresas se esquecem que os seus funcionários são a cara pública da empresa, a primeira linha de contacto que o cliente tem e muita vez o ponto definitório de essa pessoa se tornar ou não cliente.
Esquecem-se também que após o ter como cliente é preciso mantê-lo, cuidá-lo e no geral tratá-lo bem para evitar que ele salte pra concorrência.

Em certos serviços isso não é viável, como o caso da EDA que é aquela e mais nenhuma, mas de qualquer modo, pelo menos para essas empresas chamadas públicas, esquecem-se que somos nós, os contribuintes, que lhes pagamos os salários chorudos a que estão habituados.

Mas no fundo no fundo isto não passa de uma(s) grande(s) empresa(s) que se estão completamente a cagar para o zé povinho, por muito que ele contribua.
Passo a deixar um exemplo pessoal:

Lá fui eu, na minha dança mensal, pagar as contas do mês.
Como tem sido cada vez mais normal neste tempo de crise, tinha uma factura da PT atrasada, para além da do mês corrente.

Derivado de, tinham-me feito o que eles chamam de suspensão parcial, cortaram-me a televisão mas continuei com internet.

Por causa de, cheguei eu à TMN pra pagar a minha factura, munido de cartão multibanco, que hoje em dia o que manda é o plástico.
Tirei a minha senha, que hoje em dia não passamos de peças numa linha de montagem, e esperei a minha vez. Ia olhando para as montras de telemóveis, para os panfletos a anunciar serviços que ou já tenho ou não preciso, ou até a olhar para as saídas do ar condicionado... tudo para evitar olhar para aquela gaja que trabalha naquela agência e parece querer fingir que não me conhece, ou para o lavrador que cheira tão mal que nem o AC o salva, ou para a velha que me manda uns olhares que mais parece que me quer saltar em cima, ou para o repatriado que olha para os telemóveis como se estivesse a decidir qual deles vai roubar, ou para as bezerras atrás dos balcões que têm cara de que se lhes déssemos um tiro na cabeça era um favor que lhes fazíamos.
Sim, que isto de contacto interpessoal é coisa do século passado e deus me livre se hoje em dia alguém conversar com a pessoa que está ao seu lado na bicha pro abate.

Certo ponto apanhei uma conversa pelo ar, não sei se acompanhada do mau cheiro ou de intenções criminosas, da qual só percebi "multibanco".
Antes de chegar à minha vez lembrei-me de perguntar à abécula se aceitavam cartões ao que ela me responde... "Pra quê?"

Só me apetecia responder qualquer coisa parva, tipo "pra cortar linhas de coca" ou "pra alugar filmes pornográficos" mas lá me contive e, considerando que estava a falar com a criatura do balcão dos pagamentos, disse... "pra pagamentos."

"Ah não, multibancos só pra compras."

Olha que porra, então se só há uma opção porque é que não abre logo com "só pra compras" em vez do idiótico "pra quê"?

Mas enfim, lá saí eu da fila, perdi a minha vez e dirigi-me ao multibanco mais próximo. Levantei dinheiro, voltei à loja e por aí adiante até finalmente chegar a minha vez na linha de montagem.

"Queria saber se para me reactivarem o serviço preciso de pagar as duas ou se pode ser só a mais antiga."
"Ah pois, nós aqui fazemos o pagamento mas é só da factura que o senhor tiver na mão."
Desculpa?!?!? Mas afinal vocês são um balcão da PT ou são o pay-shop na vendinha da esquina?
E eu com o olhar vidrado no computador dela, que mais óbvio só se tivesse setas a sair dos olhos pergunto, "e não há maneira de saber?"

Daí que ela agarra o telefone e... liga para o serviço a clientes!

Mas que merda vem a ser esta?!? Vim até aqui pra fazeres o mesmo que podia ter feito em casa? Mas afinal estás a receber pra quê?
A este ponto só me passa pla cabeça que tipo de favores sexuais é que esta jumenta andou a fazer pra conseguir este trabalho, porque pela inteligência não foi de certeza!

Passando à frente, depois de dois telefonemas e muita conversa com a burra-gémea da caixa ao lado, lá a pequena me diz que sim senhor, posso pagar só a mais antiga, custa X e remata com o incrédulo... "E como é que vai pagar?"

PUTA QUE PARIU!!!! Então se vocês só aceitam dinheiro como carga de diabos é que achas que eu vou pagar? Duas vacas e um cabrito? Meia hora de trabalho escravo durante uma semana? Talvez uma pequena pilha de sal?

Eu a contar mentalmente quantos anos ia parar à cadeia por transformar o ecrã dela num colar cervical acabei a responder, "Com dinheiro, faz favor."

Saí de lá biurso (ou seja, duas vezes urso) mas pelo menos estava a situação resolvida, agora era só esperar 48 horas no máximo pra me re-ligarem aquela merda e não precisava de ver aquele furúnculo pelo menos até ao mês que vem.

Saltando dois dias... ainda nada de têvê, ligo eu pro serviço de apoio a clientes, o mesmo que a cebola tinha ligado na loja.

Ah e tal, contas em atraso, pagamentos na loja, bla bla bla e atirem-se da rocha abaixo que eu quero a porra da televisão ligada.

"Ah não, pedimos muita desculpa pela informação dada, mas a partir do momento que vai pra corte tem que regularizar a situação por completo senão não há nada pra ninguém."

A minha cabeça parecia a terceira guerra mundial, ataques nucleares ao alto das covas, campos de concentração repletos de funcionários da PT, cães de ataque a vaguear as ruas e baratas radioactivas ao quilo a perseguir os poucos que restam...
E queimadas públicas de cartazes do meo e de efígies dos gajos dos Gato Fedorento.

Mas o pior, passando à parte séria, o pior mesmo é que a culpa não é da funcionária.
Se calhar a rapariga nos seus tempos livres está a descobrir a cura pro cancro, ou a distribuir próteses pelas vítimas das minas terrestres, mas naquele posto e naquele momento a empresa não lhe dá informação absolutamente nenhuma.
Ela não é mais que uma pay-shop, uma "recebedora" de dinheiros, sem acesso nenhum a registos, políticas internas, procedimentos ou tudo o mais necessário para desempenhar a sua função.

Que no fundo no fundo ela não é uma funcionária da PT. Ela é sim uma empregada da TMN que por acaso dá pagamento a umas contas de outras firmas...

Da mesma maneira que o pessoal da manutenção não são da PT mas sim da Viatel e outros parecidos, os vendedores são contratados por empresas de marketing e o suporte técnico está todo a um oceano de distância.

Com uma infraestrutura destas o serviço nunca pode ser bom, a atenção devida nunca pode ser dada e a funcionária, por mais inteligente que seja, vai passar sempre por imbecil.

sábado, 1 de outubro de 2011

A televisão que se afunda

RêTêPê A Cores
E voltamos à vaca morna.

Como já tinha dito vai pra mais de dois anos, esta história da RTP Açores é uma ilusão.

Volta à boca do povo "a televisão que nos une"... e parece que o dito excesso de confiança está mesmo a levar a RêTêPê Acores ao declínio.
É um bocado como o Lusitânia, no ponto que está a morrer mas meia dúzia de macacos continuam a fazer tudo por tudo para não os deixar afundar no abismo. Ou pelo menos a fazer barulho suficiente para não cair no esquecimento.

Este canal é conhecido por todos os lados como "o canal que ninguém vê" e não parece ter aspirações a mais que isso.

Eu quando vejo RTP África, sabe-me a áfrica. Nunca lá estive nem faço intenções disso, não conheço mais que o comum português, mas é um canal que me dá um cheiro africano. O mesmo com a RTP Madeira.
Até a RTP Internacional tem um ar de "emigrantes, vejam como vai o vosso país".

A RTP Açores? Cheira-me a RTP Continente. Sabe-me a enviados especiais, tipo Carlos Fino no Kosovo ou em Bagdad, ou seja lá por onde o homem já andou. Não me sabe a uma televisão verdadeiramente açoriana, mas sim a um continentalismo qualquer, com uns remates micaelenses pelo meio.

Querem transformá-la numa TV puramente arquipélaga? Acabem com a competição, tanto a interilhas, como a com o continente, como a com outros canais.

Estou praqui a olhar para a programação de Domingo, puramente a título de exemplo.
Abrimos com desenhos animados e começa logo mal. Numa programação que tem Sic K, canal Panda, Disney Channel, Jim Jam e Cartoon Network, os putos vêem a macacada que quiserem sem precisarem da RTP-A pra nada.
às 11:30 temos 70x7... quando tivemos o mesmo programa no mesmo dia 3 horas antes na RTP-2.
Ao meio dia, jornal da tarde... em directo da RTP-1.
Às 13:15, Nós... repetição do que deu às 9 na 2.
às 14:50 músicas de áfrica... e nem é preciso dizer de que canal é que isto vem.
Asseguir um filme, que acompanhando o exemplo dos desenhos, temos Hollywood, Fox Movies, MGM, Tele-cines e sei lá mais o quê. E porra... Charlie e a Fábrica de Chocolate? Um filme de Tim Burton com um Johnny Depp pseudo-pedófilo que anda a torturar psicologicamente criancinhas na sua fábrica com trabalho-escravo de um monte de clones cor de laranja de um metro de altura? Isto é que é um filme para uma tarde de Domingo?
Às 16:35 Top+... repetição do que deu sábado na 2.
E por aí a fora...

Num dia com 14 horas de programação só 3 horas é que são programação açoriana e uma delas é repetição (como o festival dos moinhos do corvo).
O Telejornal - Açores, o Açores Vip , o Máquinas e o Nóticias - Açores... Só isto é que é diário açoriano neste magnífico e completamente indispensável canal.

Convençam-me que o canal não deveria mudar o nome para RTP-Repetições.

Dêem-me missa de uma igreja açoriana! Rodem a igreja semana a semana e antes da missa uns cinco ou dez minutinhos de exposição turística à igreja corrente, transformem isto numa coisa apelativa, que venda!
Dêem-me Fala quem sabe, Maria do Nordeste, Jerónima de Jesus, seja o que for, em vez de repetições dos Gato Fedorento.
Que volte o Mau tempo no canal, em vez das novelas brasileiras!
Dêem-me 20 ou 30 minutos de notícias para cada ilha todos os dias! O que é que se passa no Corvo? Como é que estão as coisas na Graciosa? Se eu quiser saber notícias internacionais vou ver a BBC, o Sky News ou até a Fox!

Acabem com a reciclagem, acabem com a competição de horários e dêem-me uma televisão não só açoriana, mas que também mostre os Açores ao mundo!