Casas da Arraia Miúda

Seguindo a opinião de Armando Mendes, "O que temos são equipamentos sem ocupação significativa. E comunidades moribundas."

Concordo.

As Casas do Povo, as Sociedades Recreativas e até certo ponto os clubinhos de futebol e outros demais são restos de outra era, de outra sociedade, de outra mentalidade.

Longe vão os tempos em que a Sociedade de uma freguesia era o centro da cultura da mesma, onde as massas se juntavam em bailes, jantares, ajuntamentos, revistas, comédias e dramas e mais um sem fim de actividades.
Hoje em dia já só servem para os velhos jogarem dominó e pros bailinhos de Carnaval.

A Casa do Povo, muito sinceramente, nem sei pra que serve...
Ia sugerir que era um centro governamental da dita freguesia, mas se calhar estava a confundir com juntas de freguesia...
Nunca tive que fazer nada que fosse obrigatoriamente na casa do povo...

Antigamente, no tempo que os dinossauros andavam na terra, praí há 50 anos, as pessoas ocupavam tão completamente estes espaços por falta de alternativa.
Não era por uma devoção às estruturas nem por um amor às ditas actividades, mas porque pura e simplesmente nem havia melhor para fazer, nem maneira de chegar onde se o pudesse fazer diferente.

Hoje? Hoje todos temos carro, todos vamos pra qualquer lado à hora que quisermos e voltamos à hora que quisermos sem impedimentos nem obrigações...

Eu vivo perto de 3 ou 4 casas e não conheço nenhum dos meus vizinhos.
Pra quê? Não preciso!
Falta-me batatas? Agarro o carro e vou ao hiper!
Não passo noites fora, porque tenho sempre o carro pra voltar, e se sair da ilha qualquer um dos meus familiares agarra nos seus carros e vai dar uma vista de olhos na minha casa!

Eu não tenho nada que me obrigue a conviver com os meus conterrâneos (ou deveria dizer confreguesianos?) portanto limito-me aos grupos de pessoas que já conheço!

O ser humano só faz amigos, e como tal só convive, quando obrigado a isso... Damo-nos bem com os colegas de trabalho porque tem de ser, com as pessoas que vão ao mesmo café porque tem de ser, com as pessoas que trabalham nas mercearias onde fazemos compras porque tem de ser, com os colegas de escola porque tem de ser...
Quantos de nós temos amigos que não estão ou não estiveram incluídos nestes círculos?

Daí que se deixa de haver necessidade de socializar, deixam de haver sociedades...
Deixam de haver comunidades e passamos todos a viver na nossa bolha, só a deixando quando completamente obrigados a isso.

O mundo futuro de Asimov não está assim tão longe e se não nos pomos a pau acabamos todos como os Solarians, que só comunicam por hologramas e só se reproduzem quando um deles morre...